Holística na Abordagem do Projeto Arquitetônico
*Holística provém do grego holos, que significa totalidade. Refere-se à compreensão da realidade como um todo integrado, um todo cósmico, onde os elementos participam de uma dança complexa de inter-relação e correlação permanentes, entre si e com o todo, onde a parte esta no todo, assim como o todo esta na parte, conforme a demonstração holográfica..
Este novo paradigma, em consonância com as descobertas da física moderna que desmaterializou o mundo, onde não há elementos e sim eventos probabilísticos, onde o observador cria constantemente a própria realidade que observa, onde habita o princípio de incerteza, e as contradições coexistem, onde se descortina apenas um campo de possíveis, onde tudo é espaço sem nenhuma fronteira, este novo paradigma resgatou a consciência não dual, o mais precioso legado da sabedoria antiga.
Ciência e consciência encontram-se, gerando uma mutação psíquica necessária, e uma nova e emergente visão da realidade que exige uma reformulação epistemológica, já em pleno curso.

A abordagem holística considera o continum matéria-vida-consciência, tornando imperativo o novo diálogo das áreas ditas físicas, biológicas e humanas com os representantes da sabedoria antiga, os místicos, os artistas e os poetas; surge a transdisciplinaridade.
1*CREMA, Roberto. Individuação : De Jung ao Holos, Revista Thot: São Paulo : Palas Athena do Brasil , n.52 , 1989
A INFLUÊNCIA DO HOLÍSMO NA ARQUITETURA : ARQUITETURA HOLÍSTICA
“ Longe de um ser limitadamente baseado sobre algum sentimento isolado de percepção como a visão, nossa reação frente a uma edificação deriva de uma resposta global de nosso corpo e da percepção das condições do meio que a edificação proporciona”
James Marston Fitch
O homem atual vem enfrentando uma série de dificuldades resultantes de sua manipulação indevida de seu meio natural.
Vivendo a maior parte de seu tempo na cidade e no interior de objetos e abrigos, cujos projetos não respeitam o conjunto de suas percepções sensoriais, acabou tendo que lidar com o aparecimento de novas doenças como a “síndrome da edificação doente”.
A predominância do sentido visual induzida , entre outros fatores, pelo grande bombardeio da mídia moderna , a poluição crescente e o alto nível de ruídos e odores acabam por reduzir consideravelmente a sensibilidade dos órgãos sensoriais do ser humano.
Aliando a esses fatores o advento da tecnologia , o Arquiteto acabou por priorizar a consciência da forma em contraste com a possibilidade de desenvolver uma síntese holística de desenho abrangendo os diversos sentidos humanos. Meio ambiente e percepção ficaram afastados das questões projetuais.
Outros aspectos, como as mudanças na forma de produção, resultantes da passagem de uma economia local para uma global , têm influenciado consideravelmente as novas formas de urbanização e arranjos materiais, provocando um desarranjo sócio-espacial , fragmentando mais ainda as grandes metrópoles.
A globalização da economia está forçando as cidades a buscarem novas formas de articulações que promovam o diálogo entre as cidades como um todo, entre as áreas interiores da própria cidade e com as comunidades que devem interagir com toda esta dinâmica.
O desenvolvimento das redes de informação começaram a promover um intercâmbio sócio-econômico-cultural cada vez maior e mais dinâmico, levando à necessidade de uma abordagem de análise mais abrangente, e menos relativa.

O que está emergindo agora é “uma mudança de paradigma” na sociedade , de mecanicista para um sistema fundamentado na concepção holística da realidade.
Talvez, a mais fundamental avaliação da ciência moderna seja a do antigo cientista da Nasa James Lovelock em sua Teoria Gaia, na qual vê a terra inteira como *“life- sustaining super-system” –, cujo nome procede do Originário Deusa Mãe Grega.
A filosofia tradicional Oriental tem paralelos interessantes com o novo holismo no ocidente.
Ocorre atualmente uma grande necessidade de se lidar com questões ligadas às relações micro-macro, general-local e individual-coletivo e a processos que ocorrem e se conectam nas duas esferas simultaneamente .
Como nosso paradigma social se transforma gradualmente, assim também o design está mudando . Existe agora uma onda de mudança expandindo gradualmente através do desenho e profissões ligadas às edificações;
- supra-sistema de sustentação da vida
ASPECTOS DO ANTIGO E NOVO PARADIGMA
Paradigma ANTERIOR Dominância – Yang
- Escala ampla de desenho
- Desenho predominante masculino
- Desenho mais dominante, agressivo
- Uniforme, convencional e previsível
- Desconfortável, dispersonificado e alienado
- Estilo Internacional,
- não relacionado ao vernáculo
- Desenvolvimento especulativo por retorno financeiro elevado
- Desenho dominado pela estética visual
- Contornos duros, linhas retas e ângulos retos
- Materiais de alto impacto energético
- Sistemas não reaproveitáveis e com desperdício
- Prejudiciais a saúde pessoal e ao meio ambiente
- Alienado, imposto ao mundo natural
Paradigma NOVO Dominância – Yin
- Escala humana de desenho
- Associação do masculino e feminino
- Cooperativo, harmonioso, em harmonia com o meio ambiente
- Variado, imprevisível, surpreendente
- Confortável, humanitário e sustentável
- Regional, estilo local, relacionado com o vernáculo
- Comunitário, projetos de edifícios voltados para necessidades sociais locais
- Desenho equilibrando as necessidades sensoriais
- Contornos suaves, curvas e variação de ângulos
- Materiais de baixo impacto energético
- Sistemas duráveis, conserváveis e recicláveis
- Sadio e desenho mais saudável, levando em conta o meio ambiente
- Orgânico, originando-se do ecossistema local
Traduções de Ana Claudia P. Antunes Silva – Fonte : Revista “ The Architectural Review” – Oct 1991 n° 1136 – Texto “ Makinhg Sense of Arqchitectures “ – David Pearson
A Arquitetura Biológica, Arquitetura Ecológica, Bioclimática , Alternativa, Sustentável, Comunitária, emergem como respostas e estão cada vez mais presentes no Design, na Arquitetura e no Urbanismo , mostrando, cada vez mais, que um número crescente de profissionais começam a incorporar um sentimento de responsabilidade frente a estas questões .
Influências como o trabalho de Rudolf Steiner, em sua “ Arquitetura Antroposófica” com conceitos de harmonia oferecendo mudança , como um desenvolvimento orgânico , inspiram muitas destas correntes atuais.

Arquitetos Internacionais, como Richard Rogers e Renzo piano, têm fundamentado vários de seus trabalhos Arquitetônicos e Urbanísticos na questão da sustentabilidade, buscando um equilíbrio entre a sociedade, as cidades e a natureza , através de elementos baseados na participação, na educação e na inovação.
Frank Loyd Wright chegava a comparar aspectos de integridade do ser humano , com aspectos de integridade do objeto de construção, numa tentativa de exemplificar o conjunto de forças que o projeto devia conciliar, numa clara alusão à busca de aspectos sensoriais.
Alvar Aalto , também, fez várias referências a determinadas características das qualidades dos objetos construídos, que apesar de não terem percepção visual, eram capazes de outras influências , psíquicas, emocionais e sensíveis como se fossem campos ultravioletas do espectro da cor.

Arquitetos Nacionais, como Lina Bo Bardi , referenciavam suas obras a conceitos de percepções de ordens psíquicas , emocionais e de contextualização orgânica com o local e a cultura imediata.
Vilanova Artigas, ao comentar sobre sua preocupação de como colocar a edificação na paisagem , como sua obra “ senta” no chão e nas “estruturas que cantam”, revelava sua ligação com a questão : “ apropriar-se da natureza, com dignidade e amor, como ela lhe é oferecida”. (Vilanova Artigas)
Incluir necessidades passadas , que hoje mais do que nunca, se mantêm presentes e necessárias, bem como dialogar com as novas necessidades do homem contemporâneo e provocar respostas que englobem caminhos futuros são um grande desafio para a Arquitetura atual.
*“ Quando a união entre o natural e o produzido se completar, nossas construções aprenderão e se adaptarão, curarão a si mesmas e evoluirão.Contudo, este é um poder com o qual ainda não chegamos a sonhar.” (KevinKelly, Out of Control)
- extraído do livro CIDADES PARA UM PEQUENO PLANETA de Richard Rogers
2* extraído do livro CIDADES PARA UM PEQUENO PLANETA de Richard Rogers
1* supra-sistema de sustentação da vida
Texto – Arquiteto Flavio Erwin Westmann – dir.reserv.
Fontes de Referências do texto
Deinição de Holística
CREMA, Roberto. Individuação : De Jung ao Holos, Revista Thot: São Paulo : Palas Athena do Brasil , n.52 , 1989
A Influência do Holísmo na Arquitetura – A Arquitetura Holística
AALTO, Alvar. O Racionalismo e o Homem. Alvar Aalto 1898–1976, Finlândia: Catálogo do Museu de Arquitetura da Finlândia, 1983
ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.
WESTMANN, Flavio Erwin . Arquitetura Holística. 1993. TGI,Mestrado(F.A.U Mackenzie/USP, São Paulo )
WRIGHT, Frank Lloyd. Integrity: in a house as in an individual. The Natural House. Livro Dois ,1954PEARSON, David. Making Sense of Architecture, The Architectural Review, London , n.1136, October.1991